Brasil: Grifes internacionais usam couro ligado a desmatamento e terras indígenas, inclui comentários das empresas

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“Grifes usam couro proveniente de desmatamento ilegal no Pará, diz estudo”, 23/06/2025
Grifes internacionais estão comprando couro de empresas que têm vínculos com fazendas que criam animais em terras indígenas e em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia. Esta é a conclusão de um estudo publicado nesta terça-feira (23) pela organização não-governamental britânica Earthsight.
A investigação... analisou decisões judiciais, imagens de satélite, registros de embarques e se infiltrou em feiras do setor para desvendar a rede de fornecedores de couro de marcas como Chanel, Balenciaga e Gucci.
Segundo a Earthsight, na base desta cadeia produtiva está o frigorífico Frigol, abatedouro apontado como comprador de gado criado em áreas embargadas por desmatamento e em fazendas instaladas ilegalmente dentro da Terra Indígena (TI) Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA).
De acordo com o estudo, a quase totalidade do couro exportado do Pará para a Europa tem como destino a Itália. Parte desse produto é comprado pelas empresas Conceria Cristina e Faeda... A investigação aponta que um fornecedor-chave das empresas italianas é a Durlicouros, maior exportador de couro do Pará para a Europa...
...Segundo registros de exportação analisados pela Earthsight, a Durlicouros exportou para a Itália 90% de todos os couros produzidos no Pará entre 2020 e 2023... À Earthsight, a Durlicouros confirmou que compra as peles de animais do frigorífico Frigol.
À Earthsight, a Frigol disse que não identificou irregularidades em fornecedores direitos acusados de adquirir gado criado dentro da TI Apyterewa. Também disse que sua política de compras está alinhada ao Boi na Linha, protocolo de monitoramento de aquisição de gado desenvolvido pela ONG Imaflora em parceria com o MPF. Com isso, 100% do gado adquirido de seus fornecedores diretos, aponta a Frigol, foi criado em conformidade com critérios socioambientais. A empresa também afirma ser capaz de monitorar seus fornecedores indiretos de primeiro nível – os últimos pecuaristas a fornecem aos fornecedores diretos...
Segundo o frigorífico, a Frigol obteve 100% de conformidade nas aquisições de gado de seus fornecedores diretos pelos últimos três ciclos consecutivos de auditorias. A empresa também disse ter a meta de mitigar o desmatamento por fornecedores indiretos até 2030, “com intenção de antecipar para 2025 a mitigação do desmatamento indireto nível 1”. O posicionamento completo da empresa pode ser lido aqui.
Em resposta enviada à Earthsight, a Durlicouros não comentou relações comerciais específicas apresentadas no estudo. A empresa disse ter o compromisso com a “rastreabilidade e o abastecimento responsável de couro”. A empresa ressaltou ser signatária, assim como seus fornecedores, do TAC da Carne.
Chanel, Balenciaga e Gucci disseram à Earthsight que não usam couro brasileiro em seus produtos. A Chanel revelou também que encerrou recentemente seu relacionamento com a fornecedora italiana Faeda, após perder a confiança no sistema de rastreabilidade da empresa. A Faeda afirmou que não forneceu couro brasileiro às marcas de moda. A Conceria Cristina e a grife Coach não responderam aos pedidos de comentário da Earthsight...