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“O mundo precisa se tornar um lugar mais seguro para as pessoas que trabalham para proteger o planeta, que às vezes pagam com suas próprias vidas por seu ativismo... Em especial, correm risco aquelas pessoas que se pronunciam contra o desmatamento, extrativismo, perda de herança cultural ou identidade, ou grandes empresas agrícolas e projetos de desenvolvimento — incluindo aqueles destinados a produzir energia limpa, como as megarrepresas”.

Michelle Bachelet, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos 


As pessoas defensoras dos direitos humanos (DDHs) protegem nossas comunidades, direitos, recursos naturais e nosso mundo compartilhado. São lideranças vitais de uma transição justa para economias verdes, levantando preocupações sobre riscos e danos associados a operações empresariais irresponsáveis e defendendo soluções sustentáveis. No entanto, enfrentam riscos intoleráveis. Entre os 615 ataques que monitoramos em 2021, quase 70% foram contra pessoas defensoras do clima, da terra e dos direitos ambientais.

A mudança climática é uma das maiores ameaças à humanidade, afetando nossos direitos à vida, água e saneamento, alimentação, saúde, moradia, autodeterminação, cultura e desenvolvimento — entre outros. Uma transição rápida para uma economia de carbono zero é uma questão de grande urgência. Mas ela só será rápida e eficaz para as pessoas e para o planeta se for justa — através da participação cívica segura e eficaz e da consulta de empresas às pessoas trabalhadoras e às comunidades, com respeito aos direitos humanos ao longo de todo o processo.

A COP26 demonstrou, mais uma vez, como os governos estão deixando de reconhecer a ação urgente necessária para evitar a catástrofe climática e sua obrigação de garantir que as pessoas mais afetadas tenham acesso a uma solução eficaz. Na COP26 — criticada duramente por ser pouco acessível para aqueles/aquelas mais afetados pela crise climática, incluindo lideranças indígenas — muitas oportunidades de proteger melhor os direitos humanos foram perdidas.

Os/as DDHs são vitais para o movimento global de justiça climática, mas, como nossos dados revelam, aqueles/aquelas que conduzem a transição justa permanecem sob ataque permanente — alvo de violência, intimidação, campanhas de difamação e assédio judicial por parte do governo, empresas e outros atores não estatais. Os ataques em 2021 ocorreram em todas as regiões do mundo e em quase todos os setores empresariais, com cinco dos setores mais perigosos relacionados aos recursos naturais.

Ao mesmo tempo, as empresas estão sob crescente pressão para respeitar os direitos humanos à medida que as leis e regulamentações de devida diligência sobre direitos humanos ganham força; o foco do investidor no desempenho ambiental, social e de governança (ESG) das empresas do portfólio cresce; e os funcionários/funcionárias estão, cada vez mais, expressando suas preocupações sobre os riscos e danos aos direitos humanos. Proteger os direitos dos/das DDHs e as liberdades cívicas é essencial para impulsionar a mudança em direção a uma transição justa para uma economia de carbono zero e um mundo mais justo e sustentável. O momento para uma ação definitiva para melhor proteger aqueles que se esforçam para proteger nosso futuro é agora.


Entre janeiro de 2015 e março de 2022, o Centro de Informação sobre Empresas e Direitos Humanos (Centro de Informação) documentou mais de 3.800 ataques contra DDHs que levantaram preocupações sobre abusos dos direitos humanos relacionados a empresas. Somente em 2021, o Centro de Informação acompanhou 615 ataques. Como este monitoramento é baseado em informações disponíveis publicamente e muitos ataques não são relatados, sabemos que o problema é significativamente mais grave do que estes números indicam.

Isto é agravado por um déficit generalizado de relatórios governamentais sobre o assunto. Entre os 162 governos que relataram seu progresso em direção às Metas de Desenvolvimento Sustentável (SDGs), apresentando Revisões Nacionais Voluntárias (VNRs), apenas 6% compartilharam quaisquer dados sobre a meta 16.10 das SDGs, que visa proteger as liberdades fundamentais e inclui um indicador que rastreia os ataques aos/às DDHs. Entre esses governos, apenas três indicaram que houve pelo menos um ataque.

Ataques a DDHs incluem assassinatos, ameaças de morte, espancamentos, prisões e detenções arbitrárias e Ações Judiciais Estratégicas Contra a Participação Pública (SLAPPs) movidas ou iniciadas por empresas. O abuso do sistema judicial por atores empresariais e governamentais está aumentando, com o assédio judicial constituindo 60% dos ataques em 2021, em comparação com apenas 30% em 2015. O uso da prisão preventiva indefinida, agravada pelas suspensões de julgamento devido à pandemia, também está surgindo como uma tática comum para coibir os defensores dos direitos humanos.



Entre os casos que monitoramos, 76 pessoas defendendo seus direitos contra operações empresariais prejudiciais foram mortas em 2021 e pelo menos 88 casos de ameaças de morte e intimidação foram registrados. Joanna Stutchbury, uma destacada ativista ambiental, morreu após ter levado seis tiros perto de sua casa no Quênia. Joanna trabalhou durante anos para defender a floresta de Kiambu e conservar os recursos naturais do Quênia, opondo-se verbalmente às tentativas de construtores privados de construir na floresta. Ela havia recebido várias ameaças de morte no passado por causa de seu trabalho em defesa da floresta.


“Depois que lancei minha pesquisa sobre o impacto ambiental negativo dos agrotóxicos no Brasil e as conexões com a União Europeia, comecei a receber e-mails intimidadores dando a entender que minha vida estava sendo ameaçada e buscando desqualificar meu trabalho científico. Está muito claro para mim que essas ameaças aumentaram depois que a maior cadeia de supermercados orgânicos da Escandinávia boicotou os produtos brasileiros depois de ler minha pesquisa.” 

Larissa Mies Bombardi, Professora e DDH brasileira


Detalhamento global

Nossos dados mostram que os ataques contra os/as DDHs relacionados a atividades empresariais acontecem em todas as regiões do mundo, com os números mais altos sempre na América Latina e na região da Ásia e do Pacífico desde que começamos a monitorar em 2015.

Em 2021, a maioria dos ataques ocorreu na Índia (49), seguida do México (47) e das Filipinas (44). México e Brasil foram os países onde mais DDHs foram mortos/mortas (17 cada um).

Filipinas

Ariel e Ana Marie “Chai” Lemita-Evangelista foram mortos com pelo menos sete outros ativistas durante as incursões policiais e militares no chamado “Domingo Sangrento” em 7 de março de 2021 nas Filipinas. Eles eram membros da UMALPAS KA, uma organização que lutava contra mineração, grilagem de terras e mudança climática. Os ataques ocorreram após um ano mortal nas Filipinas, que incluiu a morte de nove líderes indígenas Tumandok no final de dezembro de 2020 relacionada à sua oposição ao projeto Jalaur Mega Dam, financiado através do Export-Import Bank of Korea. Em resposta ao Centro de Informação em fevereiro de 2021, o Banco disse que “ligar o JRMP-II aos incidentes relatados é enganoso” e “a maioria dos membros da comunidade indígena afetados pelo projeto são favoráveis ao projeto”.


Panorama geral do setor

Sob os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos (UNGPs), empresas e investidores têm a responsabilidade de conduzir a devida diligência em matéria de direitos humanos, o que inclui o envolvimento seguro e eficaz contínuo com as partes interessadas afetadas — pessoas que estão em risco de impactos negativos da atividade empresarial — e com as pessoas defensoras dos direitos humanos. Como descreve o Grupo de Trabalho sobre Negócios e Direitos Humanos da ONU, “as pessoas defensoras têm um papel fundamental como voz das partes interessadas e comunidades afetadas, como vigilantes, pessoas defensoras e, muitas vezes, provedores de alertas antecipados dos riscos e impactos adversos dos direitos humanos”. Ouvir as vozes das pessoas trabalhadoras, membros da comunidade e outras partes interessadas é vital para a compreensão de uma empresa sobre os riscos para as pessoas e o planeta e fortalece sua devida diligência. Os investidores podem estar ligados a impactos potencialmente nocivos através de seus investimentos. Eles são responsáveis por avaliar se suas atividades de investimento representam riscos ao trabalho e à segurança dos/das DDHs e por mostrar que estão tomando medidas para prevenir e mitigar os danos. A escala dos ataques contra os/as DDHs, e o fato de que eles ocorrem em quase todos os setores empresariais, indica uma ausência total de devida diligência efetiva por parte de muitas empresas e investidores.

Na África, quase três em cada cinco ataques, incluindo violência, ameaças e assédio judicial, foram ligados às indústrias extrativas. Entre 2020 e 2021, somente em Uganda, houve 58 ataques contra DDHs, a maioria dos quais se opunham às atividades de empresas de mineração, gás e petróleo em terras comunitárias ou florestas, incluindo o oleoduto da África Oriental (EACOP), construído e financiado por empresas e investidores internacionais. Onze bancos se distanciaram do projeto após a preocupação generalizada com os impactos ambientais e sociais negativos manifestados pelas comunidades afetadas e por centenas de Organizações da Sociedade Civil — OSCs.

Mineração

Um esforço conjunto para atingir o net zero de carbono até a metade do século exigirá uma expansão sem precedentes da produção mineral de transição. A produção de energia renovável na forma de produção eólica, solar e de veículos elétricos levará a um aumento da demanda por terra e por minerais como cobre, cobalto, lítio, níquel e terras raras. As projeções da Associação Internacional de Energia apontam para um aumento de seis vezes na demanda por minerais de transição até 2040.

Dada a centralidade destes minerais para a transição, a escala de ataques ligados ao setor de mineração é particularmente preocupante. Durante os últimos sete anos, a mineração tem sido o setor mais perigoso para os/as DDHs que levantam preocupações sobre danos relacionados a empresas. Os/as DDHs que protegem suas terras, água, florestas e meio ambiente das operações de mineração têm sido ameaçados, espancados e mortos.

DDHs que se opõem às operações de mineração também foram presos/presas, detidos/detidas arbitrariamente, criminalizados/criminalizadas e submetidos/submetidas a processos injustos. Na América Latina — uma das regiões mais afetadas pelo uso de SLAPPs — pelo menos 62 processos judiciais foram instaurados ou iniciados por empresas contra lideranças comunitárias, ativistas sociais, jornalistas, lideranças indígenas e pessoas defensoras do meio ambiente, levantando preocupações sobre projetos de mineração entre 2015 e 2021.

Além disso, nosso Rastreador de Minerais de Transição revelou que os maiores produtores de seis minerais-chave necessários para a transição de carbono zero estão, em grande parte, falhando em lidar com os riscos e impactos nas comunidades locais, incluindo ataques a organizações da sociedade civil e suas lideranças. Entre 2010 e 2020, de acordo com os dados do Rastreador, o maior número de denúncias envolveu ataques contra as comunidades e lideranças locais (125 denúncias no total). Em 33 casos, as comunidades responderam com protestos, passeatas, greves ou bloqueios contra uma mina, indicando seus altos níveis de frustração. A consulta e o consentimento da comunidade é vital para garantir que os projetos de energia renovável beneficiem tanto as populações globais quanto locais, mas nosso Rastreador revelou que um em cada oito abusos de direitos humanos registrados em minerais de transição incluíram protestos da comunidade.

México

José de Jesús Robledo Cruz, ex-presidente do comissariado do ejido El Bajío em Sonora, no México, opôs-se durante anos às atividades da mineradora Penmont. Em abril de 2021, José e sua esposa, Maria de Jesús Gomez Vega, foram encontrados mortos no deserto. Um cartão foi encontrado ao lado de seus corpos com os nomes de outros 13 ativistas antimineração, uma clara ameaça de morte para esses indivíduos. José e Maria haviam sido sequestrados e torturados anteriormente por causa de seu trabalho em prol dos direitos humanos. Procuramos uma resposta da Penmont, que condenou os assassinatos e instou as autoridades a investigar. A empresa também rejeitou categoricamente quaisquer alegações de envolvimento.


Energia hidrelétrica

Desde 2010, localizamos mais de 200 denúncias de abusos associados ao setor de energia renovável, particularmente grandes projetos hidrelétricos. As denúncias de abuso incluem apropriação de terras, condições de trabalho perigosas e salários de miséria, danos à vida e à subsistência dos povos indígenas, e ataques aos/às DDHs. Em 2021, detectamos 36 ataques a DDHs que levantaram suspeitas sobre projetos hidrelétricos, dos quais 28 foram na América Latina.

Honduras

Em 2021, a polícia invadiu as casas de membros do Conselho Indígena Lenca de Reitoca, em Honduras, que têm resistido à construção de uma usina hidrelétrica no Rio Grande. Durante esta incursão, Gissela Rodas foi borrifada com spray pimenta no rosto, jogada no chão e assediada sexualmente. A polícia prendeu cinco DDHs, liberando-os/as no dia seguinte com ordens de não retornar às suas casas e famílias, nem deixar o país.



Os ataques a DDHs que trabalham com abusos relacionados a empresas são motivados por muitos fatores, incluindo consulta inadequada à comunidade e falta de respeito ao consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas; racismo e discriminação; e restrições ao espaço cívico.

Consulta inadequada à comunidade

Muitos ataques têm origem em empresas que não conseguem consultar de forma segura e significativa as comunidades afetadas por suas operações antes de iniciar projetos. Pelo menos 104 casos de ataques contra DDHs em 2021 foram decorrentes da falta de consulta significativa ou de consentimento livre, prévio e informado ou divergências em relação a avaliações de impacto social ou ambiental. Destes, mais da metade foram na América Latina.

Gichi-gami Gathering to Stop Line 3, Duluth, Minnesota

Estados Unidos

Defensores de terras indígenas e do meio ambiente têm se oposto ao projeto de expansão da Linha 3 do oleoduto da Enbridge de areias betuminosas nos Estados Unidos nos últimos sete anos, que dizem ter prosseguido sem consentimento livre, prévio e informado e violado uma série de direitos humanos protegidos pela Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, outros tratados de direitos humanos da ONU e direitos de tratados dos EUA, incluindo o direito à autodeterminação, direitos culturais e direitos à terra. A construção começou em dezembro de 2020 após seis anos de audiências regulatórias controversas nas quais mais de 60.000 cidadãos de Minnesota e membros de tribos publicamente se opuseram ao projeto. De acordo com a campanha Pare a Linha 3, a Linha 3 contribuirá significativamente para a crise climática, representando o equivalente a 50 usinas de carvão com emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera cada ano.

Mais de 900 pessoas protestando contra a construção do oleoduto foram presas. A maioria das prisões ocorreu no verão de 2021 e foram feitas pelo menos 91 acusações de crime contra 89 pessoas. Em julho de 2021, a polícia utilizou gás lacrimogêneo, balas de borracha DDHs presos/presas disseram que lhes foi negada assistência médica por seus ferimentos e alimentos adequados e alguns/algumas foram mantidos/mantidas em solitária. Uma investigação revelou que a Enbridge reembolsou US$ 2,4 milhões à polícia dos EUA por prender e vigiar manifestantes indígenas do oleoduto da Linha 3 e que a empresa se reúne diariamente com a polícia para discutir coleta de informações e patrulhas. Quando perguntado sobre estas descobertas, um porta-voz da Enbridge observou que os fundos são alocados por um gerente de contas independente e disse: “Os policiais decidem quando os manifestantes estão infringindo a lei — ou colocando a si mesmos e a outros em perigo”. A Enbridge também disse que “demonstrou respeito contínuo pela soberania tribal” e tem “o compromisso de enfrentar as mudanças climáticas com ações reais”.


Racismo e discriminação

Outro fator subjacente aos ataques contra DDHs é o racismo e a discriminação de longa data, particularmente contra os povos indígenas e afrodescendentes. Isto se manifesta de inúmeras maneiras, incluindo a falta de respeito aos direitos coletivos à terra e a não garantia do consentimento livre, prévio e informado. As comunidades mais vulneráveis e marginalizadas, que estão na linha de frente da invasão e extração há gerações, estão pagando o preço mais alto pela crise climática e, ainda assim, são excluídas dos processos de tomada de decisão sobre suas terras e meios de subsistência.

Os povos indígenas detêm direitos e protegem 25% da superfície terrestre e 80% da biodiversidade restante. Eles são os guardiões cruciais de nossas florestas, áreas verdes e vida selvagem, que são vitais para garantir a sobrevivência de toda a humanidade. Onde os povos indígenas desenvolveram e implementaram seus próprios governos autônomos e protocolos para processos de consentimento livre, prévio e informado, eles estabeleceram com sucesso as bases para um engajamento baseado em direitos com estados e empresas. Entretanto, na maioria dos casos, eles continuam a ser excluídos de consultas significativas pelos atores empresariais e governos, bem como da tomada de decisões, inclusive na COP-26.

As pessoas defensoras indígenas também sofrem um número desproporcionalmente alto de ataques. Embora os povos indígenas representem aproximadamente 5% da população mundial, 18% dos ataques em 2021 foram contra pessoas defensoras dos direitos humanos indígenas no mundo inteiro. A porcentagem é muito maior em algumas regiões, como na América Latina, onde dois em cada cinco ataques foram contra os defensores indígenas. No Brasil, foi quase a metade.

Indigenous women protest against agriculture and mining projects in Brasilia, 2021

Brasil

Os povos Yanomami e Munduruku no Brasil vêm protegendo suas terras ancestrais das atividades de mineração há anos. A violência aumentou desde a chegada de milhares de garimpeiros. Líderes indígenas, incluindo muitas mulheres defensoras dos direitos humanos (MDDHs), foram ameaçadas, espancadas e mortas, e as instalações da Associação de Mulheres Munduruku Wakoborũn foi invadida várias vezes por grupos de mineiros. Ao mesmo tempo em que as investigações das autoridades locais têm sido lentas e ineficazes, os garimpeiros ilegais implementaram táticas para intimidar os ativistas indígenas, silenciar a oposição à invasão de terras e alimentar conflitos internos para dividir as comunidades locais.


Restrições às liberdades civis

As liberdades fundamentais necessárias para que as pessoas defendam uma ação urgente para enfrentar a crise climática e trabalhar por uma transição justa estão sob ameaça crescente. As restrições às liberdades de associação, reunião pacífica e de expressão estão crescendo em todo o mundo. CIVICUS estima que quase nove em cada 10 pessoas vivem em países onde o espaço cívico está fechado, reprimido ou obstruído. Durante os últimos dois anos, os ataques contra a sociedade civil continuaram sem diminuir e muitos/muitas DDHs enfrentaram maiores riscos, uma vez que alguns governos usaram indevidamente a pandemia de covid-19 para restringir ainda mais os direitos civis de participar da tomada de decisões públicas e empregaram forças estatais para reprimir protestos legítimos e pacíficos e obstruir o acesso à justiça.

Muitas vezes, existe uma estreita conexão entre os atores do setor estatal e privado, com alguns atores corporativos se beneficiando da repressão estatal de vozes críticas no curto prazo, embora isso aumente seus riscos financeiros, legais e de reputação a longo prazo. Mesmo nos casos em que não há ligações diretas visíveis entre empresas e ataques contra DDHs, as empresas enfrentam expectativas crescentes para usar sua influência em apoio aos/às DDHs e às liberdades cívicas de uma série de interessados, incluindo funcionários, investidores, consumidores, grupos da sociedade civil e comunidades.

Nos últimos anos, muitos países promulgaram novas leis limitando o direito de reunião, tornando mais difícil para os/as DDHs expressarem preocupações legítimas sobre danos ambientais e operações empresariais abusivas — informações essenciais para que as empresas conduzam devidas diligências sólidas em matéria de direitos humanos. Elas também tornam mais difícil para as pessoas defenderem uma transição justa e a responsabilização das empresas poluidoras. Por exemplo, somente em 2021, 86 projetos de lei federais e estaduais que afetavam os direitos de protesto foram considerados nos EUA, com 10 promulgados e 48 ainda pendentes. No Reino Unido, a Lei de Polícia, Crime, Sentença e Tribunais, criada em resposta a protestos relacionados ao clima, criminalizou métodos de protesto anteriormente legais e aumentou o poder policial para encerrar as manifestações. Legislação similar foi aprovada no Canadá, na África do Sul, na Indonésia e proposta na Alemanha e na Austrália.

Em 2021, documentamos pelo menos 216 ataques ligados a protestos pacíficos e 284 ataques relacionados ao exercício legítimo das liberdades cívicas. Além disso, as autoridades estão cada vez mais se empenhando na vigilância dos/das DDHs, usando legislação criminal e de crimes cibernéticos contra eles para restringir a liberdade de expressão, acusando-os/as de espalhar “fake news” ou descrevendo-os/as como ameaças à segurança nacional.

O diálogo social entre pessoas trabalhadoras, sindicatos, governo, empresas e sociedade civil é fundamental para uma transição justa. Contudo, as restrições aos direitos das pessoas trabalhadoras de formar sindicatos ou associações e a repressão às pessoas trabalhadoras são generalizadas em todo o mundo, tornando muito difícil a participação efetiva das pessoas trabalhadoras. Quase metade (45%) dos ataques às pessoas defensoras dos direitos trabalhistas e sindicalistas em 2021 estavam ligados a restrições à sua liberdade de associação e reunião.

Mianmar

Após a tentativa de golpe militar de 1º de fevereiro de 2021 em Mianmar, as pessoas trabalhadoras se juntaram aos protestos maciços contra o regime que se espalharam pelo país, exigindo o respeito pelos direitos das pessoas trabalhadoras e apelando para que as empresas apoiassem a democracia. Os manifestantes foram recebidos com uma violenta repressão das forças de segurança e muitas lideranças sindicais foram visadas por seu papel na organização — com 40% destes ataques ocorrendo contra as MDDHs. Muitas lideranças sindicais se esconderam, enquanto outras foram arbitrariamente detidas ou até mesmo mortas. Alguns/algumas ativistas trabalhistas foram libertados/libertadas durante a libertação em massa dos presos/presas políticos em outubro, que veio depois que a ASEAN decidiu não convidar o líder da junta militar para uma cúpula regional. Entre os libertados/libertadas estava o líder dos Sindicatos Solidários de Mianmar (STUM), Daw Myo Aye, cuja saúde estava se deteriorando rapidamente devido às duras condições de detenção.   

Bielorrússia

Em agosto de 2020, Olga Britikova tornou-se o rosto do protesto antigovernamental e antiviolência em uma refinaria estatal em Bielorrússia. Ela anunciou as reivindicações dos trabalhadores diante dos altos dirigentes da refinaria e do atual chefe da KGB belarussa e ajudou a coletar mais de 3.000 assinaturas de pessoas trabalhadoras da refinaria em apoio a uma greve. Por seu ativismo, ela foi penalizada várias vezes e demitida em dezembro de 2020, depois de trabalhar na refinaria por 16 anos. Como líder sindical, Olga Britikova continua a ajudar dezenas de pessoas trabalhadoras que enfrentam represálias por sua filiação ao sindicato. Em 20 de setembro de 2021, sua casa foi revistada pela KGB em um claro ato de intimidação por seu trabalho com direitos trabalhistas. No mesmo dia, a casa da ativista trabalhista Anna Ablab foi revistada e seu computador foi confiscado. Ela foi detida pela polícia e acusada de traição estatal após organizar uma greve nas ferrovias belarussas, onde ela trabalhava há 15 anos. Anna Ablab, mãe de três filhos, ainda está no centro de detenção pré-julgamento da KGB.


Uma transição global para a net zero de carbono é urgentemente necessária para evitar os piores danos da mudança climática e avançar para economias socialmente justas e ambientalmente sustentáveis. Empresas e investidores estão se comprometendo cada vez mais com a ação climática, incluindo promessas de alcançar o "net zero" até a metade do século. Entretanto, a grande maioria dessas empresas e investidores não tem políticas que expressem tolerância zero contra represálias em suas operações, cadeias de abastecimento e relações empresariais, nem avaliam os riscos para os/as DDHs em seus processos de devida diligência. Eles incluem as maiores empresas de energia renovável, como revelado por nosso benchmark do setor, bem como empresas produtoras de minerais usados em tecnologias de energia renovável e veículos elétricos, como mostrado por nosso Rastreador de Minerais de Transição.

A participação cívica segura, efetiva e significativa possibilitada pelo respeito às liberdades de associação, reunião e expressão, bem como a consulta contínua com as partes interessadas afetadas por cada empresa é essencial para uma transição justa. O não respeito aos direitos dos/das DDHs e a proteção das liberdades cívicas prejudica os esforços de transição justa, pois leva a atrasos nos projetos, violência contra DDHs, danos às comunidades afetadas e ao meio ambiente e possíveis desinvestimentos ou ações legais. Isto, por sua vez, se traduz em riscos legais, financeiros e de reputação para as empresas e investidores envolvidos.

A proteção dos direitos dos/das DDHs e das liberdades cívicas é essencial para uma transição justa. Esses líderes são uma força motriz para ambientes limpos e seguros, condições justas de trabalho, governança democrática responsável e comércio responsável. O respeito a seus direitos e liderança é vital para mitigar os danos da crise climática e construir um mundo mais justo e sustentável.

O Centro de Informação sobre Empresas e Direitos Humanos recomenda:

Governos

  • Aprovar e implementar legislação reconhecendo o papel vital dos/das DDHs, tanto individuais quanto coletivos, na promoção dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável e de um ambiente saudável e comprometendo-se com a tolerância zero a ataques. Isto deve incluir o reconhecimento legal dos direitos específicos dos povos indígenas e afrodescendentes (recomendações mais detalhadas disponíveis aqui).
  • Aprovar leis nacionais para implementar os princípios orientadores da ONU, incluindo legislação vinculativa de devida diligência de direitos humanos, e consultar os/as DDHs em todas as etapas deste processo. Esta legislação deve exigir uma consulta contínua segura e eficaz às pessoas trabalhadoras, DDHs, membros da comunidade e outros afetados potencial ou diretamente pelas operações ou relações comerciais da empresa, e deve ser parte integrante dos planos de mitigação e adaptação ao clima (recomendações mais detalhadas disponíveis aqui).
  • Adotar regulamentações específicas que previnam os assassinatos, ameaças e outras formas de violência contra DDHs, incluindo a coleta e comunicação de dados sobre ataques para informar mecanismos de proteção mais eficazes e aprovar legislação anti-SLAPP para evitar que as empresas silenciem os/as DDHs (recomendações mais detalhadas disponíveis aqui). Assegurar uma solução eficaz para as violações quando elas ocorrerem, inclusive por meio do fortalecimento dos sistemas judiciais para responsabilizar as empresas por atos de retaliação contra DDHs e participar ativamente na investigação e no processo dos responsáveis por ataques.

Empresas

  • Adotar e implementar compromissos políticos que reconheçam o valioso papel dos/das DDHs, indiquem riscos específicos aos/às DDHs, garantam o envolvimento e consulta eficazes aos/às DDHs em todos os estágios do processo de devida diligência e se comprometam com tolerância zero quanto a represálias em todas as operações, cadeias de fornecimento e relações comerciais da empresa.
  • Promover devidas diligências sólidas em matéria de direitos humanos e ambientais e assegurar o acesso efetivo aos recursos para aqueles prejudicados pela atividade empresarial, de acordo com os Princípios Orientadores da ONU e a orientação do Grupo de Trabalho da ONU sobre a garantia do respeito aos/às DDHs.
  • Respeitar os direitos dos povos indígenas à terra e à floresta e o direito ao consentimento livre, prévio e informado, incluindo seu direito de definir o processo pelo qual o consentimento livre, prévio e informado (CLPI) é alcançado e de reter o consentimento (recomendações mais detalhadas disponíveis aqui).

Investidores

  • Estabelecer uma política pública de direitos humanos que reconheça o valioso papel dos/das DDHs na identificação dos riscos associados às atividades empresariais e se comprometa com uma abordagem de tolerância zero em relação aos ataques contra DDHs. Comunicar claramente as perspectivas de direitos humanos incluídas nesta política às empresas do portfólio, incluindo que as empresas:
    • divulguem os direitos humanos e os riscos relacionados ao meio ambiente;
    • promovam consultas contínuas com as comunidades, pessoas trabalhadoras e DDHs;
    • tenham políticas e processos para respeitar os direitos dos povos indígenas (incluindo direitos à terra e consentimento livre, prévio e informado);
    • respeitem os direitos dos/das DDH; e
    • garantam o acesso efetivo à reparação quando ocorrer um dano.
  • Empreender uma rigorosa devida diligência em relação aos direitos humanos e ao meio ambiente e analisar potenciais investidores quanto a qualquer envolvimento anterior com retaliação. Evitar investir em empresas com este histórico.
  • Utilizar a influência de empresas investidas que causam, contribuem ou estão diretamente ligadas aos direitos humanos e danos ambientais, incluindo ataques aos/às DDHs, de modo que a empresa mitigue o impacto e proporcione reparação aos afetados.