abusesaffiliationarrow-downarrow-leftarrow-rightarrow-upattack-typeburgerchevron-downchevron-leftchevron-rightchevron-upClock iconclosedeletedevelopment-povertydiscriminationdollardownloademailenvironmentexternal-linkfacebookfiltergenderglobegroupshealthC4067174-3DD9-4B9E-AD64-284FDAAE6338@1xinformation-outlineinformationinstagraminvestment-trade-globalisationissueslabourlanguagesShapeCombined Shapeline, chart, up, arrow, graphLinkedInlocationmap-pinminusnewsorganisationotheroverviewpluspreviewArtboard 185profilerefreshIconnewssearchsecurityPathStock downStock steadyStock uptagticktooltiptwitteruniversalityweb

O conteúdo também está disponível nos seguintes idiomas: español

Comunicado de imprensa

2 Dez 2020

Oito em dez imigrantes ficaram sem renda nas oficinas de costura de SP na pandemia

Photo credit: Fran Hogan/ Unsplash.

A pandemia de COVID-19 afetou a renda de oito em cada dez trabalhadores de confecções da cidade de São Paulo ouvidos em pesquisa da organização não-governamental britânica Business and Human Rights Resource Centre. A grande maioria destes trabalhadores são mulheres, imigrantes, bolivianas, que viram sua renda cair drasticamente após queda nos pedidos de clientes e redução do valor pago por seu trabalho. O relatório do estudo vai ser divulgado nesta quinta (3) pela Bori, em conversa com jornalistas

A pesquisa aplicou um survey online entre 21 de julho e 16 de setembro de 2020 com 146 entrevistados entre 17 e 65 anos, com média de idade de 34 anos, moradores de São Paulo ou região metropolitana. Como a amostragem é limitada, é difícil atestar que os dados da pesquisa sejam representativos dessa população na capital. As mulheres são 73% das entrevistadas.

Segundo Marina Novaes, pesquisadora e representante do Human Rights Research Center no Brasil, “o perfil é o de imigrantes, bolivianas, que trabalhando e vivem no mesmo espaço, sem a segurança de um emprego formal. Elas são um perfil mais vulnerável aos efeitos negativos da pandemia”.

A grande maioria dos entrevistados (89%) vive no mesmo local onde trabalha, em casas geralmente alugadas por donos das oficinas. 56% dos respondentes possuem filhos em idade escolar e, destes, 30% não tinham acesso à internet para acompanhar as atividades de educação à distância.  “São espaços pequenos, precários, onde o trabalho é o mais importante. O espaço para a família é o de menos. O principal é produzir mais e ganhar mais. Por isso também chamou atenção o fato de que muitos viram na pandemia uma oportunidade para ficar mais tempo com a família”, diz a pesquisadora.

Entre os ouvidos pela pesquisa, 91% ainda relataram queda nos pedidos no início da pandemia e 42% disseram que os negócios não retomaram à normalidade. Três em cada quatro relataram que os preços pagos pelas encomendas caíram, impactando negativamente sua renda.

Como a maioria é informal (87%), 42% do entrevistados relataram ter ficado totalmente sem renda e 45% viram a renda diminuir consideravelmente. Já 64% recebem ou receberam auxílio emergencial, e 61% relataram dificuldades de acesso a alimentos.  “A pandemia agravou uma situação que já é de vulnerabilidade entre esses trabalhadores. E que também acaba sendo sentida na Bolívia, já que 93% não conseguiu enviar dinheiro aos familiares no período”, diz Novaes.

Como são quase todos informais com salário medido por peça produzida, a queda nas encomendas teve grande impacto na renda destes trabalhadores, como captou a pesquisa. “Como a maioria ficou sem trabalho no início da pandemia, 84% acabou costurando máscaras. Alguns disseram que produziram por cinco centavos máscaras que seriam vendidas depois por cinco ou dez reais”, diz Novaes.

O Brasil tem a quarta maior indústria de moda do mundo, com mais de 70 mil empresas, a maioria pequenas confecções. Trata-se da segunda indústria que mais emprega no país, oferecendo 1,3 milhão de vagas no mercado de trabalho formal, segundo dados Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Vestuário (Abit). Mas nem tudo é glamour. Na cidade de São Paulo, trabalhadores imigrantes, a maioria bolivianos, fazem parte da cadeia de suprimentos. Oficialmente, são 75 mil bolivianos vivendo em São Paulo, segundo a Polícia Federal, número que pode chegar a 300 mil, segundo organizações não governamentais.

Saúde mental e recomendações

A pandemia também afetou a saúde mental dos entrevistados. O sentimento mais prevalente foi o medo, relatado por 82%; já 36% se disseram desesperados e 34% ansiosos, mas também há esperançosos - 17,8%. Entre os que responderam a pesquisa, 83% não conhecem ninguém que morreu de COVID-19 e 46% não conhecem ninguém que haja se infectado. Apenas 10% fizeram o teste.

O relatório faz recomendações ao poder público como mapear populações migrantes e incluí-los na rede pública de proteção social. Também pede a definição políticas de combate à exploração do trabalho e intensificação da fiscalização. Para as empresas, a recomendação é mapear cadeia de suprimentos, realizar devida diligência para identificar, prevenir e mitigar riscos e impactos negativos em suas cadeias produtivas, assim como garantir aos trabalhadores a liberdade de se organizar e se fazer representar em acordos de negociação.

Marina Novaes

E-mail: [email protected]

Telefone: (11) 98294 8196