Brasil: Tragédia de Mariana faz 8 anos com reparação parcial, expansão da mineração e cidades fantasmas, segundo atingidos
“A busca por reparação oito anos após o desastre de Mariana”, 05 de novembro de 2023
Impedidos de conviver com o rio Doce há oito anos, moradores do Quilombo 14, em Naque, Minas Gerais, esperam sair da invisibilidade. A pesca, o cultivo de alimentos e o lazer das cerca de 80 famílias estão em suspenso desde o colapso da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton, em 5 de novembro de 2015.
Os mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos liberados no ambiente mataram imediatamente 19 pessoas, escorreram pelo rio Doce até encontrarem o Atlântico, na costa do Espírito Santo...
...É possível que o número de pessoas atingidas ao longo das 49 cidades sob influência da rota de lama chegue a 980 mil, segundo estimativas baseadas em estudos da Fundação Getúlio Vargas...
..uma das assessorias técnicas independentes nomeadas pela Justiça para ajudar moradores nas zonas impactadas...mostrou que 75% nunca receberam qualquer auxílio financeiro emergencial. A cada 10 entrevistados, 9 empobreceram desde a tragédia socioambiental.
A missão de reparar os danos foi dada à Fundação Renova, criada em 2016 segundo um acordo entre Justiça e mineradoras. Embora a entidade afirme que tenha desembolsado R$ 32,66 bilhões em ações de reparação e compensação até agosto de 2023, a crítica de quem atua junto às comunidades é de que o atendimento está aquém das urgências.
...No Brasil, ninguém foi preso como responsável pelo rompimento da barragem de rejeitos de Fundão oito anos após o desastre.
Na Inglaterra, a justiça marcou para agosto de 2024 o julgamento do processo que leva aos tribunais a mineradora anglo-australiana BHP. Recentemente, a Justiça aceitou a entrada da Vale na ação após pedido da BHP para que a mineradora parceira, que também controla a Samarco, contribua financeiramente com os pagamentos.
O processo, provavelmente a maior ação coletiva da história na jurisdição inglesa, é movido pelo escritório de advocacia Pogust Goodhead em nome de 700 mil atingidos. O valor exigido das mineradoras chega a R$ 230 bilhões em compensações, que seriam dadas não só a indivíduos, como também a empresas, municípios, autarquias e instituições religiosas que sofreram os impactos trazidos pelo desastre de Mariana...