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O conteúdo também está disponível nos seguintes idiomas: English

Artigo

6 Mar 2023

Author:
The Bureau of Investigative Journalism,
Author:
O Joio e o Trigo

Brasil: Cadeia produtiva de colágeno em pó está ligada ao desmatamento e à violência contra os povos indígenas no país, diz investigação jornalística

iStock

“Nestlé compra colágeno de gado criado em áreas desmatadas no Brasil”, 06 de março de 2023

...opera no bairro a fábrica da Rousselot, uma empresa pertencente à norte-americana Darling Ingredients, e que é especialista na extração de gelatina e colágeno, que podem ser obtidos em peixes, porcos e bovinos. A proteína, que se tornou peça fundamental de suplementos de saúde, está no coração de uma verdadeira febre de promessas para uma vida saudável.

...Por trás da popular versão “bovina” do colágeno, existe uma indústria pouco transparente que impulsiona o desmatamento e alimenta a violência contra populações indígenas na Amazônia e no Cerrado.

Uma investigação conduzida em parceria por O Joio e O Trigo com The Bureau of Investigative Journalism, com o jornal britânico The Guardian e com a também britânica rede televisiva ITV revela que dezenas de milhares de cabeças de gado criadas em fazendas envolvidas em desmatamento da Amazônia e do Cerrado foram abatidas em grandes frigoríficos ligados à cadeia internacional de colágeno.

...investigação conseguiu rastrear o caminho de parte deste colágeno até a multinacional suíça Nestlé, que comercializa a proteína pela marca Vital Proteins...

Esta é a primeira grande reportagem a conectar a produção de colágeno bovino com desmatamento da Amazônia e do Cerrado e violência contra povos indígenas. Nossa investigação, em parceria com a organização Center for Climate Crime Analysis (CCCA), encontrou pelo menos 2.600 km² de desmatamento desde 2008 ligados à cadeia de suprimentos de duas empresas localizadas em território brasileiro com conexões com a norte-americana Darling: a já mencionada Rousselot e a Gelnex, em processo de aquisição pela empresa...

...não está claro o percentual exato de colágeno produzido no Brasil e destinado à Vital Proteins. O que se sabe é que a Nestlé, e sua marca Vital Proteins, compram colágeno da Darling Ingredients, cuja empresa no Brasil, a Rousselot, compra parte de sua matéria-prima da Marfrig...

A Darling Ingredients disse à reportagem que a empresa e sua subsidiária Rousselot monitoram seus fornecedores, e removem aqueles que não atendem aos critérios de fornecimento responsável. Um porta-voz acrescentou ainda que as empresas “desempenham um papel crucial” na “coleta e reaproveitamento de subprodutos animais que, de outra forma, seriam descartados”.

Ele também disse que não poderia comentar sobre a Gelnex, já que a aquisição, ocorrida em outubro de 2022, ainda não foi finalizada. A Darling ofereceu 1,2 bilhão de dólares pela compra de todas as ações da Gelnex no ano passado.

...o colágeno não está previsto na futura legislação de Devida Diligência...da União Europeia e do Reino Unido. Esta nova legislação pretende combater o desmatamento ao impedir a importação de produtos cuja produção gere impactos ambientais ou esteja envolvida em violações de direitos humanos...

...A cadeia de suprimento para colágeno bovino no Brasil é altamente complexa, envolvendo inúmeros intermediários na aquisição e no processamento do gado.

...A Marfrig disse à reportagem que apenas uma pequena parte da propriedade está sobreposta ao território indígena. E que para a empresa este território não é totalmente reconhecido como indígena. O proprietário da fazenda Campanário não respondeu ao pedido de comentários da reportagem.

..Marfrig acrescentou ainda que o monitoramento de fornecedores indiretos é “um dos maiores desafios da cadeia pecuária brasileira”, mas trabalha “continuamente para mitigar qualquer vínculo entre o desmatamento ilegal e outras irregularidades em sua cadeia produtiva, tanto na Amazônia quanto nos demais biomas “.

O curtume DurliCouros, fornecedor da Gelnex, disse que a empresa segue “todos os requisitos legais e atendemos aos mais rígidos padrões nacionais e internacionais relacionados à sustentabilidade”.

A BluBrasil não respondeu à reportagem. Tanto a DurliCouros quanto a BluBrasil foram classificadas no nível “ouro” na avaliação do Leather Working Group (LWG), associação do setor que afirma auditar a sustentabilidade dos membros. A LWG disse à reportagem que este é um “assunto complexo” e que está trabalhando para que suas empresas associadas atinjam um patamar de desmatamento zero até 2030.

A JBS disse que, embora houvesse desmatamento em algumas das fazendas na Amazônia identificadas pela investigação, suas compras estavam “totalmente compatíveis” com os protocolos de aquisição e monitoramento, e que em outros casos mencionados, as propriedades haviam aderido a seus padrões.

...a Minerva disse que trabalha para garantir que o gado adquirido não venha de propriedades com áreas desmatadas ilegalmente, acrescentando que monitora “100% dos fornecedores diretos”.

A Nestlé disse que a Vital Proteins tem o compromisso de fornecer peptídeos de colágeno de alta qualidade e que as informações apresentadas pela reportagem não condizem com seus padrões de compra reponsável. A gigante de alimentos acrescentou que está tomando medidas para garantir que seus produtos estejam livres de desmatamento até 2025.

A reportagem teve acesso a uma carta enviada pela Nestlé a seus clientes, na qual a empresa afirma que a Vital Proteins vai encerrar as compras de matérias-primas provenientes da Amazônia imediatamente.

A atriz Jennifer Aniston, por sua vez, pediu que os questionamentos fossem encaminhados à Nestlé.