Brasil: Motivados pela COP30, gigantes do agro se associam a influenciadores para desviar a atenção e evitar pressões, segundo pesquisa; com comentários das empresas
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"O agro é publi: gigantes do agronegócio pagam personalidades brasileiras antes da COP30", 17 de novembro de 2025
...Empresas do agronegócio mobilizaram um exército de influenciadores e personalidades nas redes sociais antes da COP30, que termina nesta semana em Belém. Pelo menos 195 influenciadores brasileiros, entre modelos, apresentadores de TV, médicos famosos e ativistas de direita, publicaram conteúdos patrocinados por dez das maiores empresas de carne, fertilizantes e alimentos do mundo nos 12 meses que antecederam a COP30.
O número é mais de duas vezes maior que os 80 influenciadores patrocinados no mesmo período há um ano, segundo análise da organização de jornalismo internacional DeSmog, que a Agência Pública publica em parceria. Juntos, estes influenciadores têm milhões de seguidores no Instagram.
As publicações incluíam afirmações sobre os benefícios da carne para a saúde, esquetes de humor sobre a vida no campo e vídeos com músicas promovendo nuggets de frango e hambúrgueres...
Especialistas alertam que o aumento do conteúdo patrocinado por influenciadores pode desviar críticas aos impactos dessa produção para o clima e dificultar que políticos e organizações da sociedade civil defendam mudanças e regulamentações dessa atividade...
Muitos influenciadores usaram sua reputação ou expertise para associar os produtos das empresas à cultura pop ou reforçar seus supostos benefícios à saúde e ao bem-estar, em vez de abordar diretamente questões ambientais ou climáticas.
Segundo ativistas de clima, ao se associarem a celebridades brasileiras, os gigantes do agronegócio buscam desviar a atenção pública de suas crescentes emissões e evitar pressões para reduzir o consumo de carne, em favor de dietas à base de plantas, menos nocivas ao planeta...
As empresas incluídas no levantamento foram: JBS, multinacional brasileira e maior produtora de carne do mundo; as também brasileiras MBRF e Minerva Foods; as gigantes globais de sementes e pesticidas Bayer, Corteva e Syngenta; a multinacional europeia de fertilizantes Yara; e as companhias norte-americanas de commodities agrícolas ADM, Bunge e Cargill.
Essas empresas foram selecionadas para representar toda a cadeia global de produção de alimentos, de produtores de insumos...
A JBS, MBRF e Minerva foram responsáveis pelo maior volume de conteúdo com os influenciadores, representando três quartos das cerca de 200 parcerias identificadas.
No entanto, o maior aumento no uso de influenciadores foi registrado entre as europeias Bayer e Syngenta, do setor de pesticidas, e as norte-americanas Cargill e Bunge...
A Syngenta afirmou que trabalha com influenciadores para “manter a relevância junto aos nossos públicos” e que “investir na produção de informação de qualidade contribui para o fortalecimento da ciência e da inovação em todas as áreas — especialmente na agricultura”.
A Yara se recusou a comentar. A JBS pediu mais informações sobre as propagandas citadas. As outras sete empresas não responderam aos pedidos de resposta...