abusesaffiliationarrow-downarrow-leftarrow-rightarrow-upattack-typeburgerchevron-downchevron-leftchevron-rightchevron-upClock iconclosedeletedevelopment-povertydiscriminationdollardownloademailenvironmentexternal-linkfacebookfiltergenderglobegroupshealthC4067174-3DD9-4B9E-AD64-284FDAAE6338@1xinformation-outlineinformationinstagraminvestment-trade-globalisationissueslabourlanguagesShapeCombined Shapeline, chart, up, arrow, graphLinkedInlocationmap-pinminusnewsorganisationotheroverviewpluspreviewArtboard 185profilerefreshIconnewssearchsecurityPathStock downStock steadyStock uptagticktooltiptwitteruniversalityweb
Artigo

28 Jul 2022

Author:
O Joio do Trigo; De Olho nos Ruralistas

Brasil: Cientistas sofrem ameaças e assédio após revelarem os impactos ambientais, sociais e de saúde provocados pelos agrotóxicos

“Quando estudar agrotóxicos vira caso de perseguição”, 28 de Julho de 2022

Pesquisar agrotóxicos, especialmente o impacto que a exposição a eles pode provocar à saúde e ao meio ambiente, tornou-se uma atividade arriscada no Brasil. A violência contra os cientistas ocorre, na sua maioria, de forma silenciosa, sufocando o desenvolvimento do trabalho e abalando emocionalmente os profissionais. Os métodos de intimidação percorrem caminhos distintos…mas carregam um aspecto em comum: as vítimas até percebem os sinais de censura, mas só se dão conta da gravidade da situação depois que o rumo de suas vidas é alterado.

As perseguições ocorrem tanto dentro das instituições, por meio das chefias, quanto por pressão de pessoas ou instituições externas, geralmente ligadas ao agronegócio. Os constrangimentos ocorrem...mesmo ao longo dos governos Lula e Dilma, mas se intensificaram ...no governo Temer e ...início do governo Bolsonaro...

Publicação de pesquisa barrada, perda de cargo de coordenação, troca de setor, afastamento, abertura de procedimento administrativo, assédio moral e judicial, demissão e ameaças são algumas das intimidações sofridas pelos pesquisadores entrevistados pela reportagem…levou um grupo de pesquisadores a criar a Rede Irerê de Proteção à Ciência...

...O engenheiro agrônomo Vicente Almeida, um dos fundadores da Rede Irerê, foi demitido por justa causa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 2018, após denunciar assédio moral, censura e perseguição à sua produção científica...

...a pesquisadora Larissa Bombardi... A partir da observação da realidade, as perguntas começaram a surgir: como produzir alimento orgânico sem contaminá-lo com o agrotóxico do vizinho?...Uma das repercussões imediatas...foi a reação do dono de uma das maiores redes de produtos orgânicos da Escandinávia, que resolveu boicotar os produtos de origem brasileira. O trabalho de Larissa Bombardi passou a ser observado em nível internacional, mas o reconhecimento profissional veio acompanhado de perseguições...recebeu um e-mail em tom de ameaça...também recebeu críticas de sites ligados ao setor…assaltantes invadiram sua casa e vasculharam os seus pertences...

...Fernando Carneiro...participou ainda da produção de dois dossiês sobre agrotóxicos: Impactos dos Agrotóxicos na Saúde e o Dossiê Contra o Pacote do Veneno e em Defesa da Vida…já sentia a pressão dos ruralistas….o pesquisador divulgou um dado público que causou alvoroço no setor do agronegócio cearense: a classificação da comercialização de agrotóxicos entre os estados brasileiros... A informação virou manchete dos jornais locais e a cobrança caiu em cima de Fernando Carneiro que apenas repassou a informação...ele recebeu uma interpelação judicial em nome da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (FAEC)...

Marcia Montanari, pesquisadora do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso (Neast/IST/UFMT), e seus colegas que pesquisam os impactos dos agrotóxicos na saúde, estão continuamente expostos aos riscos do trabalho de campo... “Toda vez que a gente entra em campo para coletar qualquer coisa, sofre algum tipo de ameaça...Montanari foi recebida com violência em uma audiência pública...a pesquisadora e a equipe de reportagem foram parados por um carro no meio da estrada. Eles haviam acabado de receber uma ameaça por telefone. A voz no outro lado da linha dizia que eles deveriam apagar as imagens. Na sequência, foram interpelados por dois homens em outro veículo.

A imunologista e pesquisadora científica do Instituto Butantan Mônica Lopes Ferreira foi pressionada de diversas formas após divulgar um experimento que não agradou a sua chefia e, muito menos, o agronegócio...a pesquisadora recebeu do Butantan um comunicado de suspensão de suas atividades pelo período de seis meses até que sua conduta fosse avaliada pelo Comitê de Ética Animal da instituição...

Outra pesquisadora que foi impedida de pesquisar contaminação por agrotóxicos é Débora Calheiros, que até então trabalhava na Embrapa Pantanal. O episódio é antigo, ocorreu em 2007. Calheiros identificou à época agrotóxicos de comercialização proibida no Brasil na água dos canais de irrigação utilizados na produção de arroz...Calheiros e seus colegas fizeram uma publicação com recomendações que advertiram sobre a construção desenfreada de usinas hidrelétricas na bacia que forma o Pantanal...A partir daí, as intimidações se intensificaram e sufocaram a atuação da pesquisadora até ela pedir sua cessão para outro órgão. Débora Calheiros foi vetada em reuniões oficiais sobre a implementação das usinas, sofreu assédio moral, teve o seu trabalho de pesquisa questionado e foi proibida de concorrer a um pós-doutorado...